Defensorias do Tocantins e da União investigam situação caótica no sistema de saúde em aldeias indígenas do estado
02/05/2025
(Foto: Reprodução) Segundo as lideranças do povo Apinajé, que vive em 66 aldeias no extremo norte do Tocantins, só nos últimos seis meses, oito pessoas morreram sem diagnósticos. Lideranças indígenas do povo Apinajé denunciam situação precária do atendimento de saúde
No Tocantins, as defensorias do estado e da União estão investigando denúncias de líderanças indígenas sobre a situação caótica na saúde das aldeias Apinajé.
Kunityk Apinage tem 92 anos. Ele precisa fazer manutenção na bolsa de colostomia que está entupida, mas não consegue transporte. O idoso fala pouco português, mas sabe que a situação que enfrenta não é normal.
"Eu quero pedir para autoridade, remédio para nós", afirma o morador da aldeia.
Há seis meses, ele perdeu a esposa. A família até hoje não sabe de que ela morreu. Eles são do povo Apinajé, que vive em 66 aldeias no extremo norte do Tocantins. Segundo as lideranças, só nos últimos seis meses, oito pessoas morreram sem diagnósticos.
A Jocacia Xerente, grávida de cinco meses, até agora não fez os exames da gestação.
"Está faltando exame e ultrassom, até agora que eu não fiz ainda, eu estou esperando", conta.
Além das mulheres grávidas do povo Apinajé não conseguirem fazer o pré-natal adequado, alguns recém-nascidos também não passam por exames básicos. O Marquinhos, com um mês, ainda não fez o teste do pezinho. A mãe dele morreu depois do parto. O menino está sendo cuidado pela avó materna.
"Eu fico preocupada, porque ela é pequenininha ainda, por isso que eu fico preocupada quando ficar doente", afirma indígena, Juraci Almeida.
Na Aldeia Patizal, há um posto de saúde, mas a prateleira de remédios está vazia. O aparelho de medir pressão está sem pilha. A balança não funciona e a maca não pode ser usada de tão velha. A estrutura do postinho está com rachaduras.
"Está caindo coisa tudo assim da beirada. Nós ficamos com medo de ficar debaixo e cair em cima de nós", pontua Jesuíno Apinajé, cacique Aldeia Patizal.
O caos na saúde da região chegou ao conhecimento das defensorias públicas da União e do estado do Tocantins. Um mutirão de atendimentos encontrou situações alarmantes.
"Muitas pessoas que nós ouvimos, elas nos relataram essa ausência de realização de exames pela rede pública, o que pode ocasionar, certamente um óbito se aquela equipe médica não tiver conhecimento de problemas preexistentes", ressalta Letícia Amorim, defensora pública estadual.
As defensorias vão se reunir na próxima semana com representantes dos municípios, do estado e do governo federal. Os indígenas aguardam ansiosos por soluções.
"Nós estamos pedindo socorro porque nós não temos mais a quem a recorrer. Então nós já enviamos vários documentos às autoridades competentes, mas infelizmente não tem resposta", afirma Marlucia Apinaje, conselheira de saúde indígena.
A Secretaria de Saúde do Tocantins disse que os Distritos Sanitários Especiais Indígenas, que fazem parte do Ministério da Saúde, são os responsáveis pela população indígena. E que os distritos precisam trabalhar em conjunto com os municípios onde as aldeias estão. Que a entrega de bolsas de colostomia segue regular. Que exames – como o teste do pezinho e o pré-natal – são feitos pelo município. E que toda a população do estado tem acolhimento nas unidades de saúde.
O Ministério da Saúde informou que equipes multidisciplinares dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas acompanham as questões de saúde das 66 aldeias do povo Apinajé.
Defensorias do Tocantins e da União investigam situação caótica no sistema de saúde em aldeias indígenas do estado
Reprodução/TV Globo
LEIA TAMBÉM
Dia dos Povos Indígenas: caciques do Alto Tietê reivindicam por saúde especializada
MPF aponta problemas estruturais em unidades de saúde indígena no Pará e cobra soluções
A 270 km de Manaus, matriarca de aldeia indigena celebra chegada de barco-hospital em comunidade ribeirinha: ‘Sentimos falta de médico’